The Arcade Fire!

Funeral 

O belíssimo e denso trabalho de estreia dos The Arcade Fire nasceu provavelmente da necessidade de purgação da dor, consequência natural do luto dos seus membros, como o nome do álbum aponta. A música como catarse não é novidade, mas a forma e a urgência com que os seus compositores principais – marido e mulher Win Butler e Régine Chassagne – o fazem é algo mais raro. A exposição é enorme e a intimidade é partilhada.
Através de uma boa execução, devida à educação musical dos seus membros, podem-se apreciar em “Funeral” composições majestosas, temas em dois tempos e ritmos simples. Há toda uma diversidade de instrumentos – guitarra, piano, acordeão, bandolim, cordas, flauta – que conferem riqueza a cada nota, contribuindo para o conjunto final e não funcionando como ornamento, como tantas vezes se constata por aí. A voz bamboleante, penosa e por vezes esganiçada de Win Butler contrasta com a harmonia aguda da sua esposa, contrapondo a dor evidente do primeiro com a frescura e tom esperançoso da segunda, em textos por vezes bilingues. Pensamos ouvir, aqui e ali, os Swans, os Flaming Lips ou os Joy Division, os arranjos bem incisivos não nos largam os ouvidos, as recordações de infância, os balanços e os sonhos são expostos e apontados à nossa mente, para que os possamos empaticamente visionar.
Embora a ignição do registo tenha sido a morte e a melancolia domine o som, é a lembrança e a presença do amor que serve de motor para toda a vida e para este trabalho em particular, que lhe injecta a força necessária.

Neon Bible

Se em “Funeral”, eles surpreenderam o mundo com uma série arrebatadora de canções fortes, emocionantes e vibrantes, utilizando instrumentos pouco convencionais para chegar a este resultado, em “Neon Bible” tal estranheza atingiu limites extremos desde seus momentos iniciais, quando as notícias deram conta que a banda havia decidido gravá-lo inteiramente dentro de uma igreja. A utilização de instrumentos não convencionais não só continua presente e fazendo o motor do Arcade Fire girar, como se transformou em uma espécie de novo integrante da banda. Agora eles não só utilizam mandolins, violas e fagotes como se dão ao luxo de incluir um órgão de igreja na introdução de “Intervention” – a primeira faixa vazada para a internet do disco – provocando um efeito devastador e prenunciando para quem conseguiu fazer seu download que aí viria uma obra-prima.

maio 19, 2007. Indie, Música!.

2 Comentários

  1. Tacilda Aquino replied:

    Gostei muito de Neon Bible.É um dos discos que estão sempre no meu player.Acho que o grupo realmente cresceu de Funeral para Neon Bible

  2. The Arcade Fire! « Dudiee in wonderland! « Toró de Idéias replied:

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